sábado, 31 de maio de 2008

Ensaio: A árvore da vida

Esse ensaio, de 11 de julho de 2004, é o segundo da série que saiu na Gazeta de Ribeirão. Como leitura adicional, recomendo o livro "Vida maravilhosa" (1989), de S.J. Gould (especialmente o primeiro e o último capítulos) - bem como qualquer outro desse autor, especialmente os que reúnem seus ensaios sobre história natural. Anteriormente nesse blog, postei uma lista de referências que também podem ser úteis.

A árvore da vida

Charles Morphy D. dos Santos

A mais tradicional representação da teoria da evolução é uma fila indiana de hominídeos, liderada pela nossa espécie, o Homo sapiens, tendo como maior retardatário um animal bípede semelhante a um chimpanzé, o Australopithecus. Apesar de onipresente, essa figura carrega incorreções e ranços que só empobrecem a concepção popular sobre as ciências da vida no geral, e sobre a evolução em particular.

Uma seqüência como a referida representa uma série linear em que o primeiro indivíduo é visto como o mais primitivo, a partir do qual surge um outro, mais "evoluído", em um contínuo de substituições que culmina no homem como ápice do processo evolutivo. A explicação da natureza como uma eterna luta pela sobrevivência, através de uma mal definida lei do mais forte, encaixa-se perfeitamente nesse cenário: os Australopithecus, menos adaptados ao ambiente em que viviam, foram massacrados pela espécie sucessora até a completa extinção. A supremacia do vencedor duraria até o surgimento de outro hominídeo mais forte, melhor adaptado, e esse processo continuaria até nascer o Homo sapiens, que dominaria seus predecessores diretos e reinaria soberano sobre o mundo natural.

Se generalizarmos esse raciocínio, extrapolando a representação da linha evolutiva para uma gigantesca fila contendo todas as espécies, iniciada por um microorganismo e tendo, mais uma vez, o homem como linha de frente, chegaremos à conclusão lógica de que a única forma de vida que deveria existir no planeta é o Homo sapiens. Todas as demais estariam extintas. Isso está correto? Não.


Evolução significa modificação, alteração no tempo. Espécies novas surgem a partir de populações ancestrais, as quais não necessariamente deixam de existir. O aparecimento de uma barreira geográfica, como um rio, pode dividir uma população de uma espécie em dois grupos menores, os quais, desconectados, evoluirão em separado, o que pode resultar no surgimento de novas espécies. Estas serão aparentadas àquela que ficou do outro lado do rio. A espécie ancestral não é substituída pela espécie que surge, o que, entretanto, não a livra da extinção (os dinossauros são um exemplo de grupo que desapareceu apenas parcialmente. As primeiras aves, ancestrais dos pássaros que voam hoje, originaram-se a partir de alguns desses "lagartos terríveis". De certa forma, ao comermos uma suculenta coxa de frango, estamos devorando um descendente de dinossauro).


Hoje, o homem convive no mesmo ambiente com bactérias cujos ancestrais remontam aos primórdios da vida, há quatro bilhões de anos. Nenhum dos dois grupos é mais ou menos evoluído que o outro, simplesmente porque evolução não se iguala a progresso.

A representação linear da evolução das espécies, uma dando lugar à outra, deve ser substituída por uma visão mais abrangente, que considere as relações de parentesco entre os seres vivos. Uma grande árvore da vida, com cada galho representando as espécies, vivas e extintas, incluindo a nossa. Uma árvore na qual o homem representa apenas um ramo entre muitos, sem privilégios adicionais.

EVO-DEVO e afins

Artigo da última Scientific American Brasil (#73, junho/2008) sobre evo-devo. Um dos autores, Sean Carroll, escreveu "Infinitas formas de grande beleza", já traduzido para o português, uma boa introdução ao estudo da biologia evolutiva do desenvolvimento - seu site está na seção links interessantes desse blog. Segue um micro-resumo do texto:

Jogo da Evolução
Por Sean B. Carroll, Benjamin Prud’homme e Nicolas Gompel
Dispositivos do DNA que decidem quando e onde os genes são ativados permitem aos genomas gerar a grande diversidade de formas animais, a partir de um conjunto genético semelhante.
Uma vez que os genes codificam as instruções para a constituição do corpo dos animais, esperava-se encontrar diferenças significativas entre eles, refletindo sua grande diversidade de formas. Mas, na verdade, o que se observa é que animais muito diferentes possuem genes muito semelhantes. Mutações em dispositivos (seqüências denominadas acentuadoras, promotoras ou enhancers) que controlam a expressão de genes que definem as formas do corpo, e não nos genes em si, têm sido uma fonte significativa de diferenças evolutivas entre animais.


No site da PLoS Biology, há um ensaio do Dr. Carroll (em inglês) sobre o tema (Evolution at two levels: on genes and form), no número 7, volume 3, p. 1159-1166. É de acesso gratuito no endereço (pode ser baixado também o pdf):
http://biology.plosjournals.org/perlserv/?request=get-document&doi=10.1371%2Fjournal.pbio.0030245

Há também um outro artigo, dos mesmos autores do Jogo da Evolução, na revista Proceedings of the National Academy of Sciences USA, de maio de 2007 (vol. 104, suplemento 1, p.8605-8612), entitulado "Emerging principles of regulatory evolution", que pode ser encontrado no site:
http://www.pnas.org/content/vol104/suppl_1/
Esse artigo fez parte do especial
In the Light of Evolution I: Adaptation and Complex Design, que ocupou todo o volume da revista, e que conta com vários textos de temas recentes e muito revelantes para a compreensão da evolução. Recomendo a todos que se interessam por biologia evolutiva.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Belos nudibrânquios!


Foi publicado um artigo bastante interessante sobre nudibrânquios na edição mais recente da revista National Geographic (junho/2008). Uma sub-ordem da classe Gastropoda (Mollusca), Nudibranchia é caracterizada especialmente pela perda da concha (em português, esses metazoários são chamados de lesmas-do-mar). As fotos (de autoria de David Doubilet) podem ser vistas no site da revista:
http://origin.viajeaqui.abril.com.br/ng/materias/ng_materia_279819.shtml


segunda-feira, 26 de maio de 2008

Conceitos de espécie

A biologia moderna é quase unânime em reconhecer que existem descontinuidades reais na natureza, que delimitam entidades naturais designadas como espécies. Assim, o conceito de espécie é um dos fundamentos de todas as disciplinas biológicas. Para Mayr (1988, p. 331), “A diversidade da vida orgânica, consistindo de espécies e grupos de espécies (...), é produto da evolução. Isso torna necessário o estudo da origem e história evolutiva da cada espécie e cada táxon superior. O estudo das espécies é, portanto, uma das preocupações fundamentais da biologia”. Não obstante, não há um consenso quanto à uma definição precisa do que seria uma espécie, o que levou ao desenvolvimento de uma série de conceitos diferentes para definir essa entidade natural. Para Mayr (1988), eles podem ser sintetizados nas seguintes classes:

(1) Conceito tipológico de espécie: uma espécie tipológica é uma entidade que difere de outra espécie por apresentar características diagnósticas constantes. Espécies são agregados aleatórios de indivíduos que têm em comum as propriedades essenciais (o conceito remonta ao eidos platônico, ou à “essência” ou “natureza” de algum objeto ou organismo) da espécie-tipo. A palavra “espécie” simplesmente significa “tipo de” e designa um dado grau de similaridade.

(2) Conceito nominalista de espécie: De acordo com o conceito, apenas objetos individuais existem na natureza. Tais objetos ou organismos são mantidos unidos por um nome – espécies, dessa maneira, são meramente construções mentais arbitrárias. Elas não teriam realidade na natureza, de acordo com os nominalistas. Mayr (1988) comenta que o reconhecimento das mesmas entidades como espécies por culturas diferentes, e sem contato entre si (como algumas espécies reconhecidas no Ocidente e também por nativos da Nova Guiné), refuta o conceito nominalista de espécies, uma vez que seria bastante improvável que duas culturas distintas chegassem à mesma construção arbitrária, i.e., à delimitação das espécies idênticas. O nominalismo foi a base do pensamento biogeográfico do jesuíta Athanasius Kircher, no século XVII, que tentou explicar a diversidade biológica que teria aparecido após o dilúvio universal através da existência de “cópula promíscua” entre as espécies animais que foram escolhidas por Noé para sua arca.

(3) Conceito biológico de espécie: Espécies são grupos de populações naturais que podem cruzar entre si e que são reprodutivamente isoladas de outros grupos. Assim, uma nova espécie deve adquirir isolamento reprodutivo como resultado de um processo de especiação; também deve adquirir um novo, estabilizado e integrado genótipo, que a possibilitará adquirir, na maioria dos casos, também um nicho espécie-específico.
Os mecanismos de isolamento de uma espécie são instrumentos de proteção da integridade dos genótipos – sem eles, o cruzamento entre espécies diferentes levaria ao esfacelamento do equilíbrio dos genótipos, que seriam rapidamente extirpados pela seleção natural. A coesão interna das espécies é continuamente reforçada pelo cruzamento. Organismos que pertencem a uma espécie são parte da espécie, não membros dela (uma vez que a espécie, nesse sentido, não é uma classe). A compatibilidade de genótipos de parceiros co-específicos – documentada pela produção de novos genótipos viáveis na sua prole – indica que a população dessa espécie tem o tipo de “harmonia interna” que se esperaria encontrar em partes de um sistema único.
Espécies estão localizadas espaço-temporalmente. Elas ocorrem em locais e períodos específicos. Dentro da sua localização espaço-temporal, espécies correspondem a conjuntos contínuos de organismos – essa continuidade é dada pela sua conexão histórica (ancestralidade comum). Não há nada no conceito biológico de espécie que corresponde ao conceito platônico de essências fixas e transcendentais. Se as espécies tivessem tais essências, a evolução gradual seria impossível. O fato da evolução mostra que elas não têm essências – espécies são caracterizadas por três classes de variabilidade: variação de organismos dentro de uma população; variação no espaço (geográfica) das populações; e evolução, que é a variação no tempo.

4) Conceito evolutivo de espécie: Modificado de Simpson (1961) e Wiley (1981) - uma espécie evolutiva é uma linhagem (uma seqüência de populações ancestrais-descendentes) que evolui separadamente (ou seja, mantém sua identidade) a partir de outras espécies e que possui suas próprias tendências evolutivas e destino histórico. Conceito utilizado especialmente na paleontologia e também por alguns filogeneticistas. Para Mayr (1988), esse conceito utiliza termos vagos como “mantém sua identidade” (isso incluiria barreiras geográficas?), “tendência evolutiva” (conceito muito controverso, uma vez que essas “tendências” só poderiam ser observadas em reconstruções históricas com base em um registro fóssil completo e, ainda assim, seriam meramente descrições da evolução de uma dada linhagem e de alguns dos seus atributos) e “destino histórico”.

(5) Definições "operacionais" de espécie: Para Mayr (1988), são vários, entre eles (a) princípio da diferença – baseado no reconhecimento de morfotipos; (b) reconhecimento de todas populações isoladas geograficamente como espécies diferentes; e (c) reconhecimento de espécies por princípios cladísticos, que se baseia em Hennig (1950), a partir do qual uma espécie ancestral deixaria de existir no momento em que uma espécie nova se origina dela.

Mesmo que o biólogo não se preocupe diretamente com qual conceito de espécie ele utiliza no seu trabalho, a existência de uma entidade natural (portanto, real), demonstrada pelas descontinuidades presentes na natureza, é incontestável.

domingo, 25 de maio de 2008

Livros indicados

Seguem as capas dos livros indicados, todos com tradução para o português.

Ensaio: Deuses e novos sacerdotes

Esse pequeno ensaio é antigo, mas parte das opiniões ainda valem (e a discussão continuará procedente ainda por muito tempo). Saiu na Gazeta de Ribeirão do dia 04 de julho de 2004.
Alguns livros interessantes que tratam da contraposição entre pensamento científico e atividade religiosa: Pilares do Tempo, do paleontólogo e evolucionista S.J. Gould (cuja edição original é de 1999) - talvez um pouco conservador e verborrágico, ainda assim bem argumentado, faz a exposição original da idéia de dois magistérios não sobrepostos; Deus, um delírio, do ultra-darwinista (não em um sentido pejorativo, mas devido à sua insistência reducionista na primazia do gene como agente da evolução) Richard Dawkins (edição original de 2006) - trazendo uma defesa apaixonada e radical da ciência contra o pensamento dogmático religioso e suas conseqüências para as sociedades humanas; e Quebrando o encanto (edição original de 2006), do filósofo evolucionista Daniel Dennett - tentando demonstrar que a religião é um fenômeno natural, produto da atividade humana como a arte e a ciência.

Deuses e novos sacerdotes

Charles Morphy D. dos Santos

Retas perfeitamente paralelas e distintas, diz um conhecido postulado matemático, jamais se cruzam. Por mais que se aproximem, coincidirão apenas no infinito inatingível. Da mesma forma, visões de mundo científicas e metafísicas não se contrapõem e não devem ser postas em confronto direto.

Religiões tratam da moral do homem, da ética e da sua condição na existência. Elas são importantes para um sem número de pessoas que buscam na teologia algum conforto para suas vidas. Cientistas buscam conhecer o mundo através da razão, e só aceitam hipóteses falseáveis, ou seja, aquelas que tenham a possibilidade de serem testadas, segundo critérios delimitados e passíveis de repetição.

As visões de mundo desses dois magistérios são diametralmente opostas, apesar das discordâncias de ambos os lados. Elas tratam de aspectos exclusivos à sua prática. O conceito de alma, por exemplo, está fora do escopo da ciência, bem como nossas motivações existenciais ou idéias sobre o pós-morte. Da mesma forma, a teoria da evolução, proposta por Charles Darwin e Alfred Wallace em meados do século XIX, não é contrária à existência Deus, simplesmente porque Ele não é um objeto de estudo científico. A teoria de Darwin-Wallace é materialista e, portanto, deixa de fora do seu corpo de discussão qualquer aspecto que fuja dessa perspectiva. Deus não pode ser matéria, o que infelizmente nunca foi percebido pelos milhares de críticos das idéias evolucionistas durante os últimos cento e cinqüenta anos.

Em alguns países, idéias científicas muitas vezes são deturpadas nas escolas ou mesmo omitidas dos livros didáticos, em prol de um crescente conservadorismo, travestido de crença na criação especial por uma mente superior. Isso cria um viés perigoso. A ciência diz que nossa espécie está conectada com todas as outras no nosso planeta, vivas ou extintas, pois resultamos todos de um mesmo processo de descendência com modificação. O homem apareceu há pouco tempo na história biológica. Por bilhões de anos, a Terra foi povoada exclusivamente por uma enorme diversidade de bactérias, e a elas seguiram (não nessa ordem) grupos de insetos, peixes, medusas, moluscos, dinossauros e outros. Sob uma ótica científica, não há sentido crermos que o mundo biológico foi criado para nosso uso, para o nosso prazer. Alçar nossa espécie a algum tipo de pináculo da evolução, uma posição privilegiada no meio da diversidade, é um erro grosseiro e revela um desconhecimento cabal da intrincada rede de conexões entre os seres vivos, além de justificar preconceitos e racismos (basta lembrar como negros e indígenas eram tratados como espécies inferiores até há bem pouco tempo).

Religiosos e cientistas caminham em linhas finas muito próximas, mas que não se contrapõem. Isso impede qualquer conclusão definitiva sobre benefícios e desvantagens de uma ou outra perspectiva. Somente o convívio harmonioso entre ciência e religião, respeitados os seus limites de abrangência, pode aproximá-las de seu objetivo comum: o conhecimento.

sábado, 24 de maio de 2008

Bibliografia: Evolução e Sistemática

  1. Amorim, D.S. 2002. Fundamentos de Sistemática Filogenética. Editora Holos, Ribeirão Preto. Blanc, M. 1994. Os herdeiros de Darwin. Editora Scripta.
  2. Calor, A.R. & Santos, C.M.D. 2004. Filosofia e ensino de ciências: uma convergência necessária. Ciência Hoje, 210 (35), 59-61.
  3. Chalmers, A.F. 1993. O que é ciência, afinal? Editora Brasiliense, São Paulo.
  4. Darwin, C. 1859 (2004). A origem das espécies. Editora Martin Claret, São Paulo.
  5. Dawkins, R. 1998. Universal Darwinism, pp. 15–37, in: Hull, D.L & Ruse, M. (eds.) The philosophy of biology. Oxford University Press, New York.
  6. Dawkins, R. 1998. A escalada do monte improvável: uma defesa da teoria da evolução. Companhia das Letras, São Paulo.
  7. Dawkins, R. 2000. Desvendando o arco-íris. Companhia das Letras, São Paulo.
  8. Dawkins, R. 2001. O relojoeiro cego. Companhia das Letras, São Paulo.
  9. Dawkins, R. 2005. O capelão do diabo. Companhia das Letras, São Paulo.
  10. Eldredge, N. 1989. Macroevolutionary dynamics: species, niches, and adaptative peaks. McGraw-Hill Publishing Company, New York.
  11. Eldredge, N. 1995. Reinventing Darwin: the great debate at the high table of evolutionary theory. John Wiley & Sons, New York.
  12. Ferreira, R. 1990. Bates, Darwin, Wallace e a teoria da evolução. Edusp, São Paulo.
  13. Gould, S.J. 1980 (1989). O polegar do panda. Editora Martins Fontes, São Paulo.
  14. Gould, S.J. 1989 (1990) Vida maravilhosa. Companhia das Letras, São Paulo.
  15. Gould, S.J. 1998. On replacing the idea of progress with an operational notion of directionality. In: Hull, D.L & Ruse, M. (eds.), The philosophy of biology. Oxford University Press, New York, pp. 650–668.
  16. Gould, S.J. 2001. Lance de dados: a idéia da evolução de Platão a Darwin. Editora Record, São Paulo.
  17. Gould, S.J. 2002. The structure of evolutionary theory. The Belknap Press of Harvard University Press, Cambridge.
  18. Gould, S.J. 2003. I have landed – the end of a begging in Natural History. Three Rivers Press, New York.
  19. Hennig, W. 1966 [1979]. Phylogenetic Systematics. University of Illinois Press, Urbana.
  20. Hull, D.L. 1988. Science as a process: an evolutionary account of the social and conceptual development of science. University of Chicago Press, Chicago.
  21. Kitching, I.J., Forey, P.L., Humphries, C.J. & Williams, D.M. 1998. Cladistics: the theory and practice of parsimony analyses. Oxford University Press, New York.
  22. Kuhn, T.S. 1962 (2003) A estrutura das revoluções científicas. Editora Perspectiva, São Paulo.
  23. Lakatos, I. 1977. The methodology of scientific research programmes: philosophical papers, Volume 1. Cambridge University Press, Cambridge.
  24. Larson, E.J. 2006. Evolution: the remarkable history of a scientific theory. The Modern Library, New York.
  25. Mayr, E. 1982 (1998). O desenvolvimento do pensamento biológico. Editora da Universidade de Brasília, Brasília.
  26. Mayr, E. 1991 (2006). Uma ampla discussão: Charles Darwin e a gênese do moderno pensamento evolucionário. Funpec editora, Ribeirão Preto.
  27. Mayr, E. 2000. Darwin’s influence on modern thought. Scientific American, 283:66–71.
  28. Mayr, E. 2006. Biologia, ciência única. Companhia das Letras, São Paulo.
  29. Meyer, D. & El-Hani, C. 2005. Evolução: o sentido da biologia. Editora Unesp, São Paulo.
  30. Nelson, G. & Platnick, N. I. 1981. Systematics and biogeography: Cladistics and vicariance. Columbia University Press, New York.
  31. de Pinna, M.C. 2001. Conrad Gesner e a sistemática biológica. Ciência Hoje 178 (30) 82-84.
  32. Popper, K. 1959. The Logic of Scientific Discovery. Hutchinson, London.
  33. Popper, K. 1962. Conjectures and refutations: the growth of scientific knowledge. Routledge, Kegan & Paul, London.
  34. Popper, K. 1976 (1977). Autobiografia intelectual. Editora Cultrix, Universidade de São Paulo.
  35. Schuh, R.T. 2000. Biological Systematics. Cornell University Press, Ithaca.
  36. Somit, A. & Peterson S.A. (eds.) 1989. The dynamics of evolution: the punctuated equilibrium debate in the natural and social sciences. Cornell University Press, Ithaca and London.
  37. Schuh, R.T. 2000. Biological Systematics. Cornell University Press, Ithaca .
  38. Tort, P. 2004. Darwin e a ciência da evolução. Editora Objetiva, Rio de Janeiro.
  39. Wallace, A.R. 1858. On the tendency of varieties to depart indefinitely from the original type. Proceedings of the Linnean Society of London, 3, 53–62.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

A estrutura da teoria evolutiva - II

Do livro do Gould (2002, p. 30):
"I believe, the revised structure of evolutionary theory (...) might be characterized as expansion and revision accordingo to a set of coordinated principles, all consonant with our altered Zeitgeist vs the scientific spirit of Darwin's own time. The modern revision seeks to replace Darwin's unifocal theory of organismic selection with a hierarchical account; his unidirectional theory of adaptational construction in the functionalist mode with a more balanced interaction of these external causes, treating internal (or structural) constraints primarily as positive channels, and not merely as limitations; and his unilevel theory of microevolutionary extrapolation with a model of distinctive but interacting modes of change, each characteristic for its tiers of time. In short, a hierarchy of interacting levels, each important in a distinctive way, for Darwin's single locus; an interaction of environmental outsides with organic insides for Darwin's single direction of causal flow; and a set of distinctive temporal tiers for Darwin's attempt to situate all causality in the single microevolutionary world of our own palpable moments"

(p. 43):
"(...) our brains seek pattern, while our cultures favor particular kinds of stories for explaining these patterns - thus imposing a powerful bias for ascribing conventional deterministic causes, particularly adaptationist scenarios in our Darwinian traditions, to patterns well within the range of expected outcomes in purely stochastic systems"

Ainda Gould (2002, p. 46):
"History (...) must not be dismissed as a humanistic frill upon the adamantine solidity of "real" science, but must be embraced as the coordinating context for any broad view of the logic and reasoning behind a subject so close to the bone of human concern as the science of life's nature and structure"

A estrutura da teoria evolutiva


Em seu magnum opus, The structure of evolutionary theory (de 2002), Stephen Jay Gould elencou o que para ele seriam os pilares da teoria evolutiva darwiana, dispostos em três categorias: agência, eficácia e escopo:
- AGÊNCIA: para Darwin, os organismos agem como o locus da seleção natural, e toda a ordem "superior" emerge das disputas entre os organismos por vantagens pessoais, expressas no sucesso reprodutivo diferencial;
- EFICÁCIA: Darwin identificou a vera causa (causa verdadeira) da evolução no princípio da seleção natural. A seleção natural (que atuaria negativamente, eliminando os menos "aptos") poderia, sob certas premissas a respeito da natureza da variação, levar ao acúmulo de efeitos positivos de variações favoráveis no correr de inúmeras gerações.
- ESCOPO: segundo Darwin, seu mecanismo microevolutivo (que explicava o surgimento e manutenção de pequenas variações), ao ser extrapolado para a imensidão do tempo geológico, seria perfeitamente capaz de gerar toda o quadro da história da vida, tanto em termos de complexidade anatômica quanto de diversidade taxonômica. Outras causas não seria necessárias uma vez que a microevolução também explicaria o surgimento dos padrões macroevolutivos.
Para Gould (2002), esses pilares conceituais são ainda válidos, mas têm sido revistos continuamente nos últimos 150 anos sem, no entanto, terem sido invalidados. Dentro dessa perspectiva, a estrutura da teoria da evolução, hoje, mantém a base do pensamento evolutivo de Darwin, incorporando inúmeros desenvolvimentos: a teoria da seleção ao nível dos organismos foi expandida para um modelo hierárquico de seleção, que atua simultaneamente em vários níveis (genes, linhagens celulares, organismos, demes, espécies e clados); outros processos foram acrescentados para explicar a macroevolução (como o equilíbrio pontuado ou o papel das extinções em massa) e foi ressaltada a grande importância dos limites estruturais, históricos e de desenvolvimento para o afunilamento dos caminhos da evolução (e.g., o papel de eventos estocásticos - ao acaso - para o surgimento da diversidade).



Lamarck vs Cuvier


Filogenia como base para a investigação

Para Kuhn (1962), paradigmas são hipóteses, métodos e problemas típicos que determinam, para uma comunidade científica em um dado momento histórico, quais as questões prementes e quais as melhores maneiras de respondê-las. Há praticamente 150 anos, após os trabalhos de Alfred Wallace (1858) e especialmente de Charles Darwin (1858, 1859), despontou um corpo de hipóteses que veio a ser conhecido como teoria evolutiva e que se transformou no paradigma central da biologia. Talvez a maior revolução científica de toda a história humana (Gould, 2002), rivalizando apenas com a física de Newton, a teoria da evolução foi a principal responsável pela derrocada do antropocentrismo e pela introdução da idéia de que todos os seres vivos no planeta, incluindo aí também as espécies extintas, compartilham um ancestral comum em algum nível hierárquico, o que faz com que estejam historicamente conectados. Carl Sagan (1985) costumava dizer que somos todos poeira das estrelas. A partir dos trabalhos de Darwin e Wallace – que se basearam em predecessores como Lamarck, Buffon, e de Candolle – percebemos que conexão entre todos os componentes do mundo biológico não se dá apenas no nível atômico: somos todos herdeiros do processo evolutivo, materialista e inexorável.

O pensamento evolutivo, especialmente após a teoria sintética da evolução que tomou forma em meados dos anos 1940 (Mayr, 1982; Larson, 2006), influenciou todas as áreas das ciências biológicas (não apenas as voltadas para as causas distantes, i.e., históricas, mas também aquelas relacionadas às causas próximas). A sistemática, que muitos vêem como a real base do trabalho biológico (Nelson, 1994), não foi diferente. No entanto, a introdução da idéia de ancestralidade comum na prática de organizar a diversidade, na tentativa de reconstruir sua estrutura hierárquica subjacente, teve que esperar mais de 100 anos após a publicação do Origem das Espécies (Darwin, 1859). Foi apenas com o entomólogo Willi Hennig, e seu Grundzüge einer Theorie der phylogenetischen Systematik” (Hennig, 1950), posteriormente revisto e traduzido para o inglês sob o nome Phylogenetic Systematics (Hennig, 1966), que apareceu um método objetivo para a inferência das relações de parentesco entre os grupos biológicos. Esse conjunto de regras ficou conhecido como sistemática filogenética ou cladística.

O botânico italiano León Croizat (1964) definiu a biologia como o estudo da vida em seus três elementos: forma, tempo e espaço. Assim, seria impossível compreender as mudanças da forma (e.g., estruturas morfológicas, seqüências de bases nitrogenadas, padrões comportamentais) com o passar das gerações se for desconsiderado o elemento espacial da evolução. Com Croizat, a idéia de filogenia se funde à investigação dos padrões e processos que levam à distribuição dos organismos, tendo como arcabouço a geologia cambiante do nosso planeta (Wegener, 1924), e não mais o fixismo darwiniano. Nesse sentido, a biogeografia, que estuda exatamente a distribuição espacial dos organismos e suas causas, depende do arcabouço filogenético. Em suma, estudar os organismos no espaço depende de resultados de análises cladísticas, que utilizam o método criado por Hennig (1950, 1966) com vistas a tornar a prática de organizar o conhecimento biológico em uma atividade de fato científica, possibilitando que as inferências evolutivas derivadas dessas classificações também tivessem um viés de cientificidade, como aquele das ciências exatas, e não fossem mais uma mistura de ciência e arte, como defendia o paleontólogo G. G. Simpson (1961).

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Princípios de Sistemática Cladística


Curso de Cladística no VI Simpósio Brasileiro de Paleontologia de Vertebrados.
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo.
Ministrantes: Dr. Charles Morphy D. Santos & Ms. Adolfo R. Calor.
Segunda (26) e terça (27) de maio de 2008.
Link para a página do Simpósio: http://sites.ffclrp.usp.br/paleo/vi-sbpv/
Link para página com referências bibliográficas: REFERÊNCIAS