quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Oceanos inteligentes e flores extraterrestres

No clássico da ficção científica Solaris, publicado em 1961, o escritor polonês Stanislaw Lem (1921-2006) discute algumas das questões mais profundas já levantadas pela nossa espécie em seus devaneios e investigações filosófico/científicas: O que é vida? Como identificar o que é vivo em comparação ao que não é? Por que parte das coisas que existem são vivas? Por que as coisas vivas são encontradas em uma grande diversidade de formas? Por que alguns seres vivos têm consciência e de que maneiras ela pode se manifestar? Toda vida no cosmo depende de informação codificada em moléculas de DNA ou de processos baseados na bioquímica do carbono? Como encontrar uma definição de vida que se aplica não somente ao que conhecemos? Reconheceríamos algum tipo de vida extraterrestre?

Lem não responde a praticamente nenhum desses questionamentos (e nem é essa a intenção do seu romance). Solaris trata do contato humano com formas de vida alienígenas e se poderíamos, uma vez encontrado um organismo extraterrestre, transcender o antropomorfismo e o antropocentrismo inerentes à nossa cognição na tentativa de compreendê-lo. A saga do psicólogo Kris Kelvin e de seus companheiros solaristas Sartorius e Snow demonstra a dificuldade que nossa espécie tem de se despir dos seus preconceitos e enxergar o lado do outro, alheio à nosso referencial e concepções prévias. Para Istvan Csicsery-Ronay Jr., professor do Departamento de Inglês da DePauw University (EUA), a ciência reflete as questões que os cientistas são impelidos a fazer sobre a natureza. O antropocentrismo é fundamento para a construção de hipóteses e, consequentemente, acaba por pré-selecionar os dados a serem estudados.