sábado, 25 de maio de 2013

Sobre especismo, inteligências artificiais e a posição do Homo sapiens

Cientificamente, avançamos muito na compreensão de como a senciência se distribui na árvore da vida. Entretanto, nossos princípios culturais e jurídicos são especistas por definição, e não levam em conta, ou contrariam frontalmente, as outras espécies do planeta. Visto que podemos estar às vésperas da singularidade tecnológica e da emergência de uma inteligência artificial sobre-humana, é premente a discussão de uma moralidade pós-Darwiniana que trate do direito de diferentes espécies, sejam elas não-humanas, humanas ou pós-humanas.

Senciência é a capacidade de sofrer, sentir prazer ou felicidade. Hoje, possuímos um amplo conhecimento sobre a distribuição da senciência na árvore da vida. Evolutivamente, as diferenças entre a capacidade cerebral e cognitiva do Homo sapiens e das demais espécies de vertebrados, em especial dos Mammalia, são de grau, não de tipo.

Desde a publicação do “On the origin of species”, de Charles Darwin (1859), sabemos que a evolução é um processo contínuo de descendência com modificação a partir de um ancestral comum. Apesar da existência de descontinuidades na história evolutiva – como explica a teoria do equilíbrio pontuado de Niles Eldredge e Stephen Jay Gould (de 1972), segundo a qual existem períodos curtos em termos geológicos de rápida diversificação biológica pontuados por longos períodos de estase em que eventos de especiação são menos frequentes –, há muitas evidências que suportam o compartilhamento de atributos entre todas as formas de vida no nosso planeta, desde aquelas mais mais simples, como bactérias e amebas, até as mais derivadas, com redes neuronais complexas.