sexta-feira, 6 de março de 2015

O avesso da vida - II

Quanto àqueles que negam os Nossos versículos, introduzí-los-emos no fogo infernal. Cada vez que a sua pele se tiver queimado, trocá-la-emos por outra, para que experimentem mais e mais o suplício. Sabei que Deus é Poderoso, Prudentíssimo.
Alcorão (4, 56)
A maior parte daquilo que atualmente consideramos sagrado só é sagrado por uma única razão: porque foi considerado sagrado ontem.
Nós temos nomes para definir pessoas que têm muitas convicções para as quais não há justificativa racional. Se essas convicções forem extremamente comuns, chamamos essas pessoas de “religiosas”; caso contrário, provavelmente serão chamadas de “loucas”, “psicóticas” ou “delirantes”. (...) a maioria das religiões meramente canonizou algumas manifestações de ignorância e loucura ancestrais e as passou para nós como se fossem verdades primordiais.
E assim é que, quando um terrorista muçulmano suicida destrói sua vida, juntamente com dezenas de inocentes em uma rua de Jerusalém, o papel que a fé religiosa desempenha nas suas ações é invariavelmente minimizado. O que se diz é que seus motivos devem ter sido políticos, econômicos, ou inteiramente pessoais; e que, mesmo excluindo a fé, pessoas desesperadas também fariam coisas terríveis.
Sam Harris (2004) A morte da fé: religião, terror e o futuro da razão
Durante quase duzentos anos, nós, norte-americanos, expulsamos ou exterminamos populações indígenas, isto é, milhões de pessoas; conquistamos a metade do México; saqueamos a região do Caribe e da América Central; invadimos o Haiti e as Filipinas - matando, na ocasião, 100 mil filipinos. Depois, após a II Guerra Mundial, estendemos nosso domínio sobre o mundo da maneira que se conhece.
Noam Chomsky (2001) Terrorismo: a arma dos poderosos
O governo dos Estados Unidos se recusa a julgar a si mesmo segundo os mesmos padrões morais com que julga os outros. (...) Sua técnica é posicionar-se como um gigante bem intencionado cujas boas ações são mal compreendidas pelos ardilosos nativos de países cujos mercados os Estados Unidos estão tentando libertar, cujas sociedades estão tentando modernizar, cujas mulheres estão tentando liberar, cujas almas estão tentando salvar. (...) O governo dos Estados Unidos conferiu a si mesmo o direito e a liberdade de assassinar e exterminar as pessoas “para o próprio bem delas”.
Arundhati Roy (2003), War talk 
De manhã cedo os soldados aterrissaram de helicóptero na aldeia [My Lai, no Vietnã]. Muitos disparavam enquanto se espalhavam, matando pessoas e animais. Não havia sinal do batalhão vietcongue e nenhum tiro foi disparado contra a Charlie Company o dia todo, mas eles prosseguiram. Queimaram todas as casas. Estupraram mulheres e meninas e depois as mataram. Esfaquearam algumas mulheres na vagina e evisceraram outras, ou cortaram-lhes as mãos e o escalpo. Mulheres grávidas tiveram o ventre rasgado e foram abandonadas à morte. Houve estupros organizados em gangues e matanças a tiros ou com baionetas. Houve execuções em massa. Dezenas de pessoas de uma só vez, inclusive velhos, mulheres e crianças, foram metralhadas numa vala. Em quatro horas, cerca de quinhentos aldeões foram assassinados.
Jonathan Glover (1999) Humanity: a moral history of the twentieth century
A intolerância é a companheira natural da fé vigorosa; a tolerância só viceja quando a fé perde a certeza; a certeza é assassina.
Will Durant (1950) The age of faith
Os condenados são então imediatamente levados para Riberia, o local da execução, onde há tantas estacas quanto são os prisioneiros a serem queimados. O ser relapso e negativo é primeiro estrangulado e depois queimado; os peritos montam as estacas perto de uma escada, e os jesuítas, depois de várias repetidas exortações para se reconciliarem com a Igreja, consignam-nos à destruição eterna, e depois deixam-nos com o demônio, que dizem estar ao lado delas para conduzí-los por seus tormentos. Nisso eleva-se um alto brado, e o brado é: “Vamos fazer a barba dos cães”; o que é feito aplicando-se tufos de arbustos em chamas, amarrados a longas varas, em suas barbas, até que seus rostos queimam até a negritude, a população ao redor enchendo o ar com as mais sonoras aclamações de alegria. Finalmente é ateado fogo aos arbustos ao pé da estaca, nas quais as vítimas estão acorrentadas, tão no alto que as chamas mal chegam ao assento onde estão posicionadas, e assim elas são mais assadas do que queimadas. Embora não possa haver um espetáculo mais lamentável e os sofredores gritem continuamente, enquanto conseguem, “Piedade pelo amor de Deus!”, ele é assistido por pessoas de todas as idades e de ambos os sexos, enlevadas de alegria e satisfação.
John Swain (1931) The pleasures of the torture chamber [narrando um auto de fé espanhol]
Mesmo para os padrões do Estados Islâmico, o mais recente vídeo de propaganda é particularmente macabro. A filmagem alterna imagens do piloto enquanto ele está vivo, com sequências mostrando os escombros de edifícios destruídos e os corpos queimados de sírios supostamente mortos em ataques aéreos da coalizão. Membros do Estado Islâmico foram ao Twitter para aplaudir a morte do piloto, chamando-a de "olho por olho". No final do vídeo de 22 minutos, um guerilheiro do Estado Islâmico acende o rasto de pólvora enquanto o tenente Kasasbeh assiste, suas roupas encharcadas de combustível. As chamas correm para dentro da jaula e o engolfam. A câmera se demora mostrando close-ups de sua agonia, antes de concluir com fotos do que o Estado Islâmico reivindicou serem outros pilotos da Jordânia e uma oferta de recompensa de 100 moedas de ouro para quem quer que mate um deles.
Rod Nordland e Ranya Kadri, New York Times, 3 de fevereiro de 2015

Figura 1. http://jesusismuslim.com/
Figura 2. http://images2.alphacoders.com/147/147450.jpg
Figura 3. http://planetoftheapes.wikia.com/
Figura 4. http://waterboarding.org
Figura 5. http://www.livetradingnews.com/

Nenhum comentário: