quinta-feira, 21 de maio de 2015

Lançamento do livro O hipopótamo de Tal!


O hipopótamo de Tal traz versões expandidas de nove ensaios publicados neste blog. Discuto nele como o raciocínio científico é importante para compreendermos o mundo natural e para transcendermos interesses individuais em prol de uma visão coletiva de humanidade. Reconhecer a ciência como uma das balizas norteadoras da existência humana é uma das maneiras de promover uma sociedade saudável capaz de despertar das ilusões e fundamentalismos medievais que tentam tomá-la de assalto.

Deuses e novos sacerdotes
Segundo um postulado do geômetra grego Euclides (330 a.E.C1.–270 a.E.C.), duas retas distintas perfeitamente paralelas nunca se cruzam em um espaço tridimensional. Ao passo que se distanciam do observador, essas retas parecem ficar mais próximas uma da outra, mas nunca se tocam – elas coincidirão somente no infinito inatingível e não observável. Assim como as paralelas para a geometria, também as visões de mundo científica e religiosa não se sobrepõem quando respeitados seus limites e áreas de abrangência, e não devem ser postas em confronto direto, apesar das discordâncias dos defensores de ambos os lados.

Faça-se a luz!
Investimentos maciços no desenvolvimento científico-tecnológico e em educação são fatores significantes quando nossa espécie se vê frente a perigos impostos por fenômenos em muitas ordens de magnitude mais fortes do que nossas possibilidades de controlá-los. Esperar apenas que o profeta aponte os caminhos e garanta a salvação é um comportamento, no mínimo, ingênuo, quando não fatal.

A parcimônia nas ciências
Parcimônia vem do latim parcos e significa frugalidade, moderação, simplicidade. Esse conceito é comumente associado à economia de suposições em teorias científicas. Desde o início da ascensão da ciência como uma poderosa maneira de se compreender a natureza, ainda na Idade Média, tem havido uma demanda crescente pela simplicidade nas proposições científicas. Não é exagero dizer que a parcimônia é um componente essencial do conhecimento humano.

O hipopótamo de Tal
Há muitas analogias possíveis entre os maneirismos dos grandes jogadores de xadrez e o comportamento dos cientistas. Diferentemente do jogo dos reis, a ciência nem sempre ganha com a excessiva autoconfiança dos seus praticantes – que por vezes mal escondem uma sede por reconhecimento midiático e celebridade instantânea. A complexidade do mundo natural é bem maior que o número de variantes possíveis em uma partida de xadrez e não pode ser mensurada em uma bancada de laboratório. Aos pesquisadores cabem responsabilidades que fogem ao falso determinismo de suas fórmulas e protocolos de trabalho.

Não havia evidências suficientes, Deus!
O ceticismo não é uma perspectiva exclusiva das ciências. Ser cético é questionar qualquer conhecimento, fato, opinião ou crença estabelecida como fato. Filosoficamente significa aceitar apenas informações suportadas por evidências. Até mesmo as religiões podem se beneficiar dele, através, por exemplo, de autoanálises periódicas – ou, de preferência, constantes – que levem ao refinamento das premissas que constituem seu conhecimento de fundo. No entanto, as religiões, quando tomadas no geral, não fazem um esforço sincero para depurar o que alguns chamam de suas “superstições infundadas”. Adotar o ceticismo religioso significaria, por exemplo, colocar em dúvida princípios religiosos básicos como a imortalidade, a reencarnação ou a evolução espiritual.

Das revoluções
Em termos práticos, um novo paradigma pode ser mais atrativo, por exemplo, se ele fornece possíveis soluções a um maior número de problemas, ou se suas soluções são mais claras, objetivas e simples que aquelas fornecidas pelo paradigma anterior. Se um novo conjunto de ideias precisa de menos hipóteses ad hoc (que são os “remendos” feitos a uma hipótese inicial, a fim de salvar a explicação), ele certamente é vantajoso quando comparado a um paradigma que precise de inúmeros apêndices explicativos para funcionar a contento. Assim, um paradigma não é simplesmente rejeitado mas substituído em favor de alguma teoria alternativa, digamos, mais elegante. A transição funciona como uma reconstrução das bases teóricas e práticas da área de estudo, alterando algumas das suas generalizações mais elementares, bem como parte dos seus aspectos metodológicos e das suas aplicações. 

Somos todos ateus
É concebível um cientista natural, como um biólogo, acreditar em Deus? Em minha opinião, sim, é concebível. Nem todos concordam, mas acredito que um biólogo pode acreditar em poderes divinos, assim como também tem o direito de torcer por qualquer time em qualquer campeonato de futebol (tenho um amigo zoólogo que torce por uma equipe diferente em cada estado em que já morou) ou de preferir jazz ao rock. No entanto, cientistas naturais que escolhem o caminho ambíguo da fé no sobrenatural precisam estar cientes das contradições que essa escolha pode acarretar. 

O desafio da alfabetização científica
Pensar de maneira científica parece chave para uma educação mais eficiente, menos voltada à simples memorização e repetição de argumentos prévios ditados por figuras de autoridade. Para isso, a ciência tem que ser tratada como um processo, não como um conjunto de realizações prontas e postas à mesa tal qual um catálogo de curiosidades. Nesse sentido, a filosofia da ciência funciona como uma ferramenta extraordinariamente poderosa tanto para professores quanto para alunos.

Da posição do Homo sapiens na árvore da vida 
O modo como os animais são tratados em fazendas de criação intensiva desconsidera completamente a possibilidade deles apresentarem características cognitivas sofisticadas, dentre elas a senciência. Senciência é a capacidade de sofrer, sentir prazer ou felicidade. Hoje, possuímos um amplo conhecimento sobre a distribuição da senciência na árvore da vida. Evolutivamente, as diferenças entre a capacidade cerebral e cognitiva do Homo sapiens e das demais espécies de vertebrados são de grau, não de tipo. Por exemplo, há evidências cada vez mais abundantes de que espécies tão diversas quanto gatos domésticos, golfinhos, orangotangos, girafas e até mesmo patos guardam luto, lamentando a morte de parentes e companheiros próximos.

Um comentário:

Peterson Lopes disse...

Meus parabéns! Tentarei comparecer ao lançamento!